O Vinho do Porto é um vinho licoroso, cujo processo de vinificação difere do seguido pelos vinhos comuns principalmente por se dispor de um tempo muito curto de fermentação e maceração (2 a 3 dias) a que se alia o facto da adição de aguardente dever respeitar certas regras afinadas ao longo dos anos pela tradição e a prática.
Nos processos tradicionais de vinificação, utilizados na elaboração de alguns tipos de vinho do Porto, após o desengace mais ou menos extenso, as uvas são esmagadas em lagares (tanques de pedra abertos, com uma altura máxima de 60 cm). Esta operação, conhecida por pisa, é tradicionalmente feita por homens, pode também ser executada por modelos mecânicos que simulam a pisa a pé. Após o primeiro esmagamento ('corta'), o mosto em fermentação fica em repouso durante algumas horas e é novamente esmagado ('mexa') até à altura em que o mosto em fermentação é separado das partes sólidas (escorrimento) a fim de ser adicionada a aguardente.
Actualmente a maior parte dos vinhos é obtida em centros de vinificação, tecnologicamente muito avançados, que permitem associar a qualidade à rentabilidade. Nestes centros de vinificação, a maior parte das operações encontra-se mecanizada. Após o desengace total ou parcial, as uvas são esmagadas e lançadas para as cubas, onde fermentam 2 a 3 dias. Durante esse período efectuam-se remontagens sucessivas para maximizar a extracção da matéria corante.
De referir que o vinho branco pode divergir nos seus processos de elaboração. Segundo os processos tradicionais, é preparado com alguma maceração e neste caso envelhece em condições oxidativas. Para os vinhos brancos em que se pretende preservar a cor branco pálida e os aromas frescos, reduz-se o tempo de maceração.
Aguardentação ou Benefício
A aguardentação confere ao vinho características organolépticas peculiares, melhora a estabilidade químico-enológica, ao mesmo tempo que permite controlar o grau de doçura final do vinho. Assim, a fermentação deve prosseguir até ao momento em que a quantidade de açúcares não fermentados dá ao vinho a doçura desejada. O mosto em fermentação, é então separado das partes sólidas (escorrimento), passa para cubas onde é interrompida a fermentação por adição de aguardente vínica (benefício), em proporções determinadas.
No quadro I fornecem-se alguns valores que permitem observar como se determina o momento de adição de aguardente a um mosto em fermentação. Assim, por exemplo, para se obter um Vinho do Porto com álcool a 19% vol. e com a doçura correspondente a 2º Baumé (Bé), a fermentação deve ser interrompida, pela adição de aguardente, no momento em que o mosto em fermentação apresentar uma massa volúmica (p20) de 1,0296. Nessa altura, devem ser adicionados 83 litros de aguardente a 467 litros de mosto, ficando o vinho licoroso com 76 gramas de açúcares residuais por litro de vinho (vinho meio-seco).
Exemplos de obtenção de Portos com doçuras variáveis
Características do Mosto : P20 = 1,0986, Açúcares = 231g/l (12,9 ºBé) e
Álcool em potência = 13,6 %vol.
Vinho Final
|
P20 no
momento da adição AD |
Proporções (litros)
|
Vinho Licoroso
|
||||
Alcool
|
p20
|
ºBé
|
Mosto
|
AD
|
Álcool de fermentação
|
Açúcares (g/l)
|
|
19
|
1,0259
|
4
|
1,0526
|
448
|
102
|
4,6
|
113
|
19
|
1,0186
|
3
|
1,0405
|
458
|
92
|
6,0
|
94
|
19
|
1,0116
|
2
|
1,0296
|
467
|
83
|
7,4
|
76
|
19
|
1,0046
|
1
|
1,0191
|
476
|
74
|
8,7
|
58
|
19
|
0,9997
|
0
|
1,0092
|
486
|
64
|
9,8
|
41
|
É determinante fazer-se uma escolha criteriosa do tipo de aguardente a aplicar no benefício, já que a sua composição química e o seu potencial aromático são fundamentais para a obtenção de um Vinho do Porto de alta qualidade.
O Instituto do Vinho do Porto aplica um esquema de controlo rigoroso a todos os lotes de aguardente vínica que irão ser utilizados na produção do Vinho do Porto. O controlo qualitativo é realizado através da análise laboratorial e sensorial.
(In Instituto dos Vinhos do Douro e Porto)